domingo, 22 de janeiro de 2012

Ficando menos inculto nas férias. Tópico do dia: Nazismo

Pois é, estava eu nas minhas férias sem fazer nada e decidi assistir todos aqueles DVDs sobre Nazismo que eu havia comprado há um tempão atrás... Foi quando quis comprar uns livros da Coleção Clássicos Abril que eu tinha perdido em banca, e na loja virtual havia esses DVDs baratinhos, creio que 5 reais cada um. Pois eu assisti um sobre a vida de Hitler intitulado "Mein Kampf" ("Minha Luta", livro escrito por Hitler na prisão), um outro da BBC sobre os julgamentos dos líderes Nazistas em Nuremberg, além de dois da Superinteressante sobre a ciência dos Nazistas. Ah, e também um recomendado pela profª Sueli no 5º semestre da Faculdade, na disciplina de Linguística, chamado "Arquitetura da Destruição" (disponível AQUI no youtube, em 12 partes), narrado pelo ator ator suíço Bruno Ganz (mais sobre ele abaixo) e lançado em 1989.

O Nazismo é um assunto tabu, mas eu acho extremamente interessante, fascinante até. Que fique bem claro que não sou nenhum entusiasta do Nazismo, não faço parte de nenhum grupo radical com ideologias rascistas, anti-semitas, eugênicas ou o diabo que o parta. E, assistindo estes documentários, eu percebi que não sei (ou sabia) absolutamente NADA sobre Hitler, o Nazismo, e seus protagonistas.

Por exemplo, no documentário "Minha Luta" fui apresentado a um artista que se recusou a seguir a carreira militar, como era o desejo de seu pai, para seguir a carreira de artista. Depois de ser recusado duas vezes na Academia de Artes de Viena, ele passou a viver num abrigo com outros desempregados e sem-teto. Ele lia uma revista de artes e, ao contatar o editor para tentar adquirir números antigos, ele também tomou contato com sua ideologia: a de que um país deveria fortalecer seu povo para mostrar suas qualidades.

Ah, esqueci de mencionar: ele nutria um desprezo absoluto pelos outros sem-teto que dividiam o abrigo sem ele. E a ideologia deste editor era baseada na eugenia, mais especificamente na eugenia nazista, que consistia em eliminar aqueles que eram considerados inferiores para que os superiores prevalececem. Já sabem de quem estou falando, certo?


O filme mostra como Hitler descobriu seu poder de orador e como sua capacidade de influenciar as pessoas o fez subir no partido. Acabou preso ao tentar tomar o poder do governo da Baviera, em 1923, e foi condenado a 5 anos de prisão por traição. Cumpriu apenas um ano, sendo muito bem tratado na prisão (o que ele próprio considerava inadmissível com um traidor). Escreveu seu livro, "Mein Kampf", na prisão, onde relatava suas estratégias para construir o estado forte alemão que sonhava. Foi motivo de chacota, seu livro vendeu pouquíssimo. Em poucos anos, quando ele se tornasse o Fuehrer, seu livro seria o mais comum presente em formaturas, batizados, até mesmo em casamentos. E as ideias que foram ironizadas seriam postas em prática.

Hitler descobriu, depois disso, que a melhor maneira de tomar o poder seria infiltrando-se nele. Pois foi o que fez. Sua desenvoltura como orador o fez conquistar as multidões, e ele colocou o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores (sim, ele era do PT de lá) no governo. Em 1933, com a morte do presidente, ele consegue unir seu cargo de chanceler ao de líder do país, e sua ditadura começa.

Mas o Nazismo não era somente Hitler: ele tinha seu ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, bem conhecido de quem assistiu o "Bastardos Inglórios" de Tarantino. No "Arquitetura da Destruição" a influência de Goebbels no governo de Hitler é destrinchada totalmente: a ideia de que a arte clássica deveria ser o modelo de arte, e não a arte moderna (comparada, com seus traços angulosos, a pessoas com deficiências físicas e mentais) era algo defendido veementemente por Hitler. Além, obviamente, dos filmes defendendo as ideias nazistas.

Outros líderes são apresentados nos documentários: Albert Speer, arquiteto que foi Ministro do Armamento de Hitler, que demonstrou arrependimento durante seu julgamento em Nuremberg e com isso escapou da pena de morte; Rudolf Hess, que chegou a voar para a Escócia em 41 para negociar a paz, foi julgado em Nuremberg fingindo estar louco, e também escapou da pena de morte (embora tenha pego prisão perpétua); Göring, o gordo, tido como um líder fraco pelo seu vício em morfina, que foi condenado à morte mas se suicidou na noite anterior à sua execução com uma cápsula de suicídio, cheia de cianureto (o suficiente para matar uns 20 homens).

Os documentários sobre a ciência nazista também são espetaculares: a Alemanha era líder em pesquisa científica (Albert Einstein era alemão, mas judeu, por isso execrado pelos nazistas), portanto seus cientistas eram temidos. O gênio da mecânica quântica Werner Heisenberg, encarregado de desenvolver a bomba atômica alemã, afirmou que uma quantidade absurda de urânio seria necessária para construir a bomba, sendo necessário anos para juntar tal quantidade. Acontece que seus cálculos estavam errados, e isso foi provado por alguns de seus pupilos, que naquele momento estavam exilados na Inglaterra, e descobriram que a quantidade necessária para a bomba era ínfima, e que a bomba poderia ser construída em pouco tempo. Sim, estavam exilados por serem judeus, e acabaram servindo bem aos inimigos de Hitler. Outro ponto interessante foram as pesquisas conduzidas com cobaias humanas pelos cientistas nazistas, e cujos resultados foram utilizados pelos EUA (que repatriaram muitos destes cientistas depois da guerra), e os resultados de tais pesquisas influenciaram, por exemplo, a corrida espacial conduzida pela NASA.

Depois dessa overdose de informação, fui assistir um filme sobre o qual tinha uma tremenda curiosidade: "A Queda" (The Downfall / Der Untergang - 2004), filme alemão que conta os últimos dez dias da 2ª Guerra, acompanhando os momentos finais de Hitler, que é interpretado magistralmente por Bruno Ganz (aquele, que narrou o documentário "Arquitetura da Destruição"). 


 O filme se torna muito mais interessante após tomar conhecimento com a história nazista através dos documentários, mas ele, por si só, já é uma aula: logo no começo há uma conversa de Hitler com Goebbels em frente a uma maquete, com estruturas clássicas baseadas na arquitetura grega, demonstrando ideias vistas no "Arquitetura"; Hitler e seu mal de Parkinson, com sua mão esquerda sempre para trás, tremendo; Goebbels e sua perna manca; as crianças com uniformes de soldados, lutando como última linha de defesa de uma Berlim prestes a cair (uma cena de Hitler conversando com essas crianças aparece no documentário "Minha Luta"). Enquanto Hitler massacrava alemães judeus nos campos de extermínio, seus soldados eram massacrados pelos russos em superioridade numérica. Sua estratégia de purificação da raça ariana acabou voltando-se contra seus planos.

Bruno Ganz e Adolf Hitler

Cada frase de hitler é épica. E ainda assim, um prelúdio da derrota que se aproxima. Obviamente, sendo uma obra de ficção, muito (senão quase tudo) foi inventado. E a maneira com que ele lida com seus generais, cada surra verbal, violentíssima, demonstra não apenas seu descontrole nos momentos finais mas, acima de tudo, devoção. Pois aqueles homens o seguiam mesmo discordando de suas decisões, mesmo diante da derrota iminente. A câmera tremendo no bunker, com luzes falhando, dá uma atmosfera de realidade, de documentário. Os diálogos, mesmo que inventados, trazem o temor na voz de todos. Inclusive do Führer.

O filme é alemão, FALADO em alemão. A sensação de legitimidade é ainda mais acentuada por esse fator. Aliás, ver Hitler detonando os generais em alemão é fantástico!

O filme é recheado de cenas fortíssimas. E não estou falando de explosões, mortes, amputações e afins. Falo, por exemplo, de um Hitler que chora ao ver seu império desabando, ao descobrir que seus homens mais leais nunca foram tão leais assim, e o são muito menos no momento da derrocada.

Os olhares mais expressivos são da Frau Junge, secretária de Hitler, em torno da qual a história do filme se amarra. Muitas vezes são olhares de reprovação, outras tantas de vergonha, e no final de simples compaixão. A presença de uma personagem civil, não diretamente responsável pelas decisões na guerra, demonstram o lado humano, mortal, do líder nazista.

Goebbels e seus seis filhos é um caso a parte; o general, que também se recusa a deixar Berlim, em lealdade ao Fuehrer, também toma a mesma decisão de seu líder: suicidar-se, e ter o corpo cremado, para que os inimigos não possam violar seu cadáver como fizeram com o de Mussolini. Aliás, esse é o momento que mais impressiona, pois os líderes não morrem sozinhos: suas famílias vão junto. E a cena da morte dos filhos de Goebbels é de fazer qualquer um questionar-se: o que eu seria capaz de fazer por (e com) meus entes queridos?

Ulrich Matthes e Joseph Goebbels

A "fuga" de Hitler e Goebbels pelo suicídio, e a devoção dos soldados que vêem seus líderes preferindo a morte a enfrentar o inimigo, faz pensar no que o poder de um discurso é capaz, pois Hitler conseguiu lavar de tal maneira a mente de tais pessoas, que ele jamais foi questionado por seus atos. 

E outra coisa: tivesse a Alemanha Nazista vencido a guerra, será que nossos conceitos seriam os mesmos hoje? Os campos de extermínio seriam considerados aberrações? A superioridade de uma raça por meio da eugenia estaria incorreta? Pesquisas científicas com cobaias humanas sendo usadas sem sua permissão, sendo mutiladas e mortas, seriam o padrão? Qual seria o conceito de "ética" disponível no dicionário?


"Mein Kampf", livro tabu de Hitler, que o governo da Bavária, detentor dos direitos autorais se recusa a publicar, existe em algumas edições online, e em 2015 entrará em domínio público, podendo ser publicado por quem se interessar. Existem interesses em publicar uma edição crítica, para evitar que o livro seja usado levianamente para incentivar ideais racistas. Confesso, sem medo, que tenho uma imensa curiosidade para ler o livro. E uma edição crítica, detalhando o contexto histórico e político da época seria muito bem-vinda. Mas, como o assunto é polêmico, nos resta aguardar para ver o que acontece.


EDIT: Mas a opinião geral sobre o Nazismo ainda continua sendo a desta música, trilha sonora de um desenho do Pato Donald:




Spike Jones
Der Fuehrer's Face


CHORUS
When der fuehrer says we is de master race
We heil heil right in der fueher's face
Not to love der fuehrer is a great disgrace
So we heil heil right in der fuehrer's face

When Herr Goebbels says we own the world and space

We heil heil right in Herr Goebbels' face
When Herr Goring says they'll never bomb dis place
We heil heil right in Herr Goring's face
Are we not he supermen Aryan pure supermen
Ja we are the supermen (super duper supermen)
Is this Nazi land so good
Would you leave it if you could
Ja this Nazi land is good
We would leave it if we could
We bring the world to order
Heil Hitler's world to order
Everyone of foreign race
Will love der fuehrer's face
When we bring to the world dis order

CHORUS


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